Boa noite.
Não me perguntem porque danço quase sempre sambas pelas madrugadas. Talvez porque, nestas alturas estou quase sempre embriagado de pensamentos e risadas.
Também peço, que não me perguntem porque hoje me aventuro na prosa. Tirem as vossas conclusões artísticas e emocionalmente definidas.
Eu juro que não me importo nada!
Ora bem! Depois de uma daquelas chamadas nocturnas, que não são nem para as fantásticas adesões televisivas pós meia-noite, nem para dizer a namorada que encontrei alguém no hi5 mais especial e parecido comigo que ela, fiquei atordoado com uma novela que me contaram via telefone do tipo: “diz que é, porque eu conheço e percebo disto”. Não, não estou a falar do gato fedorento, nem de nenhuma sátira, nem daquelas novelas da TVI, apesar de me fazer rir e apetecer-me chamar alguém para se sentar no meu sofá e rir comigo disto, como se tratasse de um “sketch”. (o pior é que não passa na televisão, então teria que chamar os a(u)tores, para vermos tudo ao vivo e a cores).
Meus amores! Todos nós gostamos de ouvir falar do que aconteceu os outros. Sim, vá lá! Não se façam de desentendidos (alguns muito, alguns pouco… mas todos gostamos!).
Mas será que tudo que ouvimos dos outros tem fundamento para fundamentar o que é o individuo em questão?
(depois da retórica, que para alguns leitores, irá fazer com que olhem primeiro para mim que para eles, voltaremos ao texto.)
Bem, mas vamos é directo ao assunto que hoje, através da tal chamada nocturna, me fez pegar nos copos, me sentar à mesa com a Vida e “rir para não chorar”!
”Disseram-me que és assim, porque te conhecem”.
Pausa.
Resolvemos a partir daqui, brincar ao aluno e à professora numa aula de educação à cidadania:
- Senhora Professora é estranho eu ficar surpreso com o que dizem de mim, mesmo quando esses meninos dizem que me conhecem?
A Professora Vida olhou-me carinhosamente e disse:
- Oh Filho! Tens tanto para aprender ainda! Decora a tabuada, a tabela periódica, aplica-te muito na escola, lê muitas revistas, vê muitas séries e programas, passa horas a ouvir desabafos dos teus amigos via Internet, vai as discotecas, anda na moda, namora, curte e coisas assim! Que um dia, conseguirás ser um “psicólogo” como essas pessoas, e assim, entender as acções humanas a partir de todos esses pseudo estudos sobre comportamentos e processos mentais que se irão juntar à tua vasta experiência de vida!
Não percebi nada( vocês perceberam?). Perguntei a professora:
- Senhora Professora, não percebi. Mas o que é um “psicólogo” então?
Ela resumiu e respondeu-me:
- È aquele cidadão que percebe sempre muito bem da vida dos outros.
Pegamos no 1º copo, brindamos (“e vai acima e vai abaixo e vai ao centro…”),botamo-lo abaixo e rimos desta irónica utopia!
Depois do 1º copo, maior parte de nós (se calhar não estou a falar em pessoas normais) aventura-se a pensar em algo que nos tem vindo a atormentar. E como eu hoje não bebia porque a Lucilene faz anos ,mas sim, porque me apeteceu beber com a vida, pus-me a pensar na quantidade de “psicólogos” que existem a minha volta. É incrível, como há sempre pelo menos um que conhece melhor a minha pessoa que eu próprio.
Não pensei mais. Enchi os copos outra vez, brindamos, rimos do brinde( nem sabemos bem porquê) e metemo-lo para dentro.
A Vida decidiu contar uma piada sobre míticos Crentes. Batia no ponto de as pessoas dizerem que são perfeitos.
Rimos a gargalhada.
Subitamente, de garrafa na mão, dei por mim a pensar de novo no tema que me fez beber.
Perguntei então a vida “ mas se esses psicólogos dizem que me conhecem, maior parte deles são meus amigos, não?”
A Vida pela 1ª vez na noite, baixou a cabeça, olhou-me no fundo dos olhos(pareceu-me embriagada também) e disse “ sim… se quiseres chama-los de amigos”
Ora esta hein?!
Enchi mais um copo, desta vez só para mim e bebi-o de penalty. Reflecti no que a Vida me disse. E sem saber como, senti umas certas dores nas costas e sangue correr em forma de lágrimas. Tentei chegar então com os meus dedos ao que me feria. Eram facas!
Fiquei parado, olhei nos olhos da vida, ela olhou nos meus, meti o copo na mesa e…RIMOS AS GARGALHADAS! (não, não sou masoquista nem faço espectáculos num circo próximo de si!... só se pagarem bem…e puder fazer um numero com anões.)
Entre gargalhadas, lá suaram umas lágrimas. Disse para a vida “ É impressionante como esses Psicólogos viram Jornalista de um momento para o outro, num jornal tipo O Crime ‘tás a ver?! publicam o que desabafamos nos seus “consultórios”, e ainda por cima sorriem para nós enquanto nos dão palmadinhas nas costas e tiram fotografias connosco! Muito bom! Parece novela! Mas melhor ainda é quando aldrabam o que nós dissemos! Melhor! Espera! ‘Tás a ver, quando fazem a reportagem e ainda deixam o comentário sobre o que nós somos só porque lhe dirigimos dois ou três desabafos, que eles nem sequer entenderam bem mas mesmo assim eles decidiram juntar com meia dúzia de fofocas que ouviram de outros Psicólogos sobre nós? E acabam com a conclusão do género, “esse aí não interessa a ninguém!” porque “diz que é, porque eu conheço e percebo disto”.
Rimos novamente!
Não consegui perceber se a Vida entendeu bem o que eu lhe disse. Mas também não faz mal! Também não sei se vocês tão a perceber bem o que eu vos digo! Também não faz mal!
Por último, depois de muitas lágrimas de riso, lembrei-me que nem sequer tinha perguntado a Vida que bebida era aquela. Perguntei-lhe então, ao que ela respondeu “ Hoje bebemos verdade”.
Não disse nada. Apenas bebi mais um pouco, já estava bem embriagado, mais um copo não fazia mal!
E foi assim que passei a minha madrugada!
Vou me deitar! Desculpem lá qualquer coisa, é que já tou “liricamente embriagado”.
